terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

ENTRE O PATRIMÔNIO E A MEMÓRIA


Por José Carlos Chagas Soares

Ao analisarmos as palavras “memória e patrimônio”, a luz da história, identificamos em seus significados a possibilidade de desbravar um passado não vivido por nós, ou seja, um caminho importante e possível para a reconstrução de fatos sociais de gerações passadas. Nesse sentido, cabe a seguinte pergunta: existe uma uma fronteira ou uma relação intermitente entre o que se entende por patrimônio e o que se compreende por memória? Ou mesmo ao que os unem em nossas vidas? Entendemos que os conceitos de “Memória e patrimônio” ligam-se por serem criações e vivências de atores sociais, que juntos, representam variadas manifestações e aspectos dos diversos modos de vida e de costumes.


Figura 5. FREIRE, Tito Luna. Professores e alunos perfilados
em comemoração ao 7 de Setembro. Seabra-Ba, 1948.
 A palavra “patrimônio” é oriunda do latim, “Pater”, que significa “Pai”, e sugere que “patrimônio” é o que o pai deixa para seu filho (MARTINS, 2010, p. 7). Segundo Choay (2006, p. 11), esta bela e antiga palavra, “patrimônio”, estava, na origem, ligada às estruturas familiares, econômicas e jurídicas de uma sociedade estável, enraizada no espaço e no tempo. Neste sentido, atualmente o patrimônio está associado as heranças deixadas pelos antepassados, de um grupo social, por isso, também é conhecido como patrimônio cultural e histórico, dividindo-se em duas ordens: material e imaterial. 

Figura 6. FREIRE, Tito Luna. Desfile esportivo em comemoração ao 7 de Setembro. Seabra-Ba, 1948.


Através das legislações brasileiras e convenções internacionais, ficou definido que patrimônio material significa:

“[...] um conjunto de bens culturais distribuídos segundo a sua natureza (...) e classificam-se em arqueológico, paisagístico e etnográfico; histórico; belas artes; e das artes aplicadas. Eles estão divididos em bens imóveis como os núcleos urbanos, sítios arqueológicos e paisagísticos e bens individuais; e móveis como coleções arqueológicas, acervos museológicos, documentais, bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos e cinematográficos.” (Fonte: IPHAN, ano p. ?).

A mesma preocupação em termos de definição para fins de reconhecimento acontece com o patrimônio imaterial. Estes estão classificados como:

"[...] práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas - junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural." (Fonte: IPHAN).

Dessa forma, a definição de patrimônio, seja ele material ou imaterial, resume-se em ações humanas, traduzidas em construções antigas e modernas, modos e práticas de vidas, que possuem valor histórico e simbólico, além de representar harmoniosamente a união do passado com o presente.  
A palavra Memória tem sua origem do Grego "mnemis" ou do latim, "memoria". Nas duas situações a palavra expressa o significado de conservação de uma lembrança. Para Ecléa Bosi (2004, p. 68), o que conhecemos e chamamos de "memória" faz referência a evocação do passado. A memória poderá ser a conservação ou elaboração do passado, mesmo porque o seu lugar na vida do homem acha-se a meio caminho entre o instinto, que se repete sempre, e a inteligência, que é capaz de inovar” (Ecléa Bosi, 2004) . 
Logo, entendemos que a memória tem o poder de transmitir de geração em geração, as criações, os costumes, vivências e tradições de um determinado grupo social, propagando entre eles um legado constituidor de identidades, ligando através de uma ponte imaginária o passado e o presente.
Segundo Halbwachs, citado por Bosi (2004), a memória é construída a partir de uma perspectiva social. Para ele, a memória do indivíduo está atrelada à memória do grupo social, e esta à memória coletiva de cada sociedade. De modo que lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar, com imagens e ideias do hoje, as experiências do passado (Bosi, 2004).
Segundo Martins (2006), diversos pesquisadores de áreas afins, atualmente, utilizam como fonte de pesquisa a memória, mesmo esta apresentando, em algumas situações, erros e lapsos. Estes, por sua vez, são menos graves em suas consequências que as omissões, principalmente, da história oficial (BOSI, 2004, p. 37). Cabe salientar que constatamos tais omissões citadas por Ecléa Bosi presentes nas narrativas dos livros didáticos do ensino médio utilizado no Cento Educacional de Seabra - BA . 
Portanto, a memória  e o patrimônio são fontes de pesquisa muito utilizadas por inúmeras áreas do conhecimento, e a história também se apropria dessa fonte de pesquisa, e extrai de ambos o que necessita para alcançar as suas finalidades.

REFERÊNCIAS

BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: Lembranças de velhos. 3. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
BOSI, Ecléa. O tempo vivo da memória: ensaios de psicologia social. 2. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2004.
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. 3. ed. São Paulo. Estação Liberdade: UNESP, 2006.
MARTINS, Clerton (Org). Patrimônio cultural: da memória ao sentido do lugar. São Paulo: Roca, 2006.
MARTINS, Maria Helena Pires. Preservando o patrimônio e construindo a identidade. São Paulo: Moderna, 2001.
Material encontrado na página inicial: <www.iphan.gov.br/>.



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