quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O HOMEM QUE ENVIOU PARA A BAHIA MAIS DE 500 MIL ESCRAVOS


Por Nelson Cadena 

                                                  

                           Autor desconhecido. Francisco Felix de Souza, conhecido como Xaxá.


São grandes as chances do cidadão do retrato acima ter tido um papel determinante na sua vida, os secretos desígnios do sangue e da raça, ele responsável pelo envio de mais de 500 mil escravos do Golfo de Benin, para a Bahia no século XIX. O nome dele é Francisco Felix de Souza, conhecido como Xaxá, não se sabe até hoje se originário de Salvador, do Rio de Janeiro, ou de Portugal; em todo caso um personagem e tanto que chegou a ser considerado no seu tempo o homem mais rico do mundo.
O Xaxá viveu uma vida de fausto e esplendor, ainda que recluso pelas circunstâncias de sua profissão de comerciante de escravos. Não arriscava sair de sua feitoria para exibir sua riqueza nos salões da nobreza e dos potentados europeus. Temia a vigilância cerrada dos ingleses que desde 1807 policiavam, com relativo sucesso, o tráfico de seres humanos, apreendendo navios negreiros e estabelecendo multas, castigos diversos e prisão inclusive aos responsáveis e implicados.
O Xaxá era ele próprio um escravo no seu harém de fausto e esplendor, o ouro que possuía não podia sair do país e não tinha outra serventia a não ser a ostentação. Viveu como um Rei, exibindo grossas correntes de ouro no pescoço e numerosos anéis de brilhantes nos dedos e já idoso segurava na mão uma bengala com castão de ouro. Na mesa de jantar servia os convidados em rica porcelana chinesa, talheres de ouro, pratos de prata e copos talhados ornamentados com pedras preciosas.
Viveu como um monarca e morreu na hora certa, em 08 de maio de 1849, dois anos antes do último navio negreiro que aportou em Salvador: o Relâmpago. Este episódio marcou em definitivo o fim do comércio de seres humanos e se vivo fosse o Xaxá teria assistido a sua ruína, já que então possuía doze mil escravos para vender, ou seja, doze mil bocas para alimentar e doze mil corpos para cuidar e vestir, sem receita para cobrir os custos.
A sua morte repercutiu entre o governo e a elite da Bahia, em especial entre capitalistas, traficantes de escravos, capitães de navios e senhores de engenho; mas não menos do que no reino de Daomé (Benin) onde o Rei Ghézo enviou para seu funeral 80 Amazonas e quis sacrificar sete nativos na sua homenagem, rito este recusado pelo primogênito do Xaxá. Ao morrer deixou 51 mulheres viúvas (negras e mulatas) e mais de 80 filhos varões, um número inestimável de filhas mulheres e algumas centenas de netos.
O maior feitor de escravos que já existiu sobre a face da terra teve a Bahia como destino preferencial de seu comércio, em função dos convênios do privilégio da exportação de tabaco de refugo do Recôncavo para a África. Do Porto de Salvador saiam barcos contendo rolos de fumo que retornavam trazendo mão de obra escrava. E foi assim que centenas de milhares de africanos provenientes do Golfo de Benin aqui aportaram para viver e morrer, escravizados; para trabalhar e ter muitos filhos e descendentes que formaram a miscigenada família baiana.

Fonte: http://www.ibahia.com/a/blogs/memoriasdabahia/2013/02/13/o-homem-que-enviou-para-a-bahia-mais-de-500-mil-escravos/

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